quarta-feira, março 05, 2008




Jose Ciqueira, 62, dorme em rede instalada em frente a sua casa. Ciqueira sentiu o tremor de sexta enquando dormia. "Acordei atordoado".


Mãe observa os filhos em barraca de lona improvisada.


Maria das Dores: "Minha pressão subiu, tive tonturas e dor no peito".


Moradores passam a madrugada batendo bapo a espera de um novo tremor.




Após tremores, moradores abandonam casas em Sobral
Danilo Verpa
Repórter-fotográfico, em Sobral

Desde o terremoto de 3,9 graus na escala Richter da madrugada da última sexta-feira, a cidade de Sobral (240 km de Fortaleza) não adormece. Os tremores são freqüentes e há três dias é difícil encontrar um morador que se sinta seguro dentro ou fora de suas casas. A maioria tenta dormir em barracas de lona improvisadas, que foram espalhadas por todas as ruas da comunidade de Jordão, distrito de Sobral e o local mais afetado pelos tremores.
Por aqui, os sonos têm sido curtos. Quem consegue dormir, fica logo desperto com uma nova tremedeira. Maria das Dores, 66, mora na comunidade há 26 anos. Quando sentiu o terremoto de sexta-feira, acordou apavorada e correu para fora de casa. "Achei que iria morrer, de repente minha pressão subiu, tive tonturas e dor no peito". Das Dores, às vezes tenta cochilar dentro de casa, mas toma precauções como dormir na sala, perto da porta, e deixá-la sempre aberta. "Mesmo assim é impossível dormir, quando a gente consegue, sente um novo tremor".
A reportagem da Folha passou duas madrugadas em Jordão e pôde sentir os tremores e observar as reações dos moradores da região.
Às 21h57 de sexta-feira, um novo terremoto, de 3,2 na escala Richter, fez com que todos os que não haviam deixados suas casas saíssem correndo com medo de desabamento. Outros sentiram o tremor quando já preparavam lonas, colchões e camas improvisadas para fazer da rua, seu quarto. O tremor também perturbou o sono dos pequenos. Pelas ruas, era possível ouvir o choro das crianças. Nesta noite, absolutamente ninguém dormiu dentro de casas O clima na cidade era tenso.
"Não agüento mais morar aqui", disse aflito José Ciqueira, 62, que acordou assustado e com dores no peito, após sentir o primeiro tremor da noite de sexta-feira. Para tentar acalmar o marido, Lucia Monteiro Ciqueira, preparou um chá de Capim Santo que lhe serviu na rede improvisada em frente à sua casa no conjunto habitacional onde moram. Mesmo mais calmo, Ciqueira já bolava um jeito de não sair tão cedo da rua. "Não vou voltar mais para casa. Vou arrumar uma lona e dormir por lá, é mais seguro". disse ao apontar para um campo de futebol.
"Será que o senhor pode explicar o que está acontecendo? Já ouvi gente dizer que Sobral irá afundar!", perguntou Maria Santos, 44, mãe de quatro filhos, quando estava entre cerca de 30 vizinhos que dormem espremidos em barracas improvisadas na rua. Os moradores não têm informações sobre as causas dos tremores e os boatos surgem. "Estão dizendo que Sobral irá afundar, é verdade?", questionou Santos.
Antônio Alves Ferreira, 46, nasceu e cresceu em Sobral. "Nunca na minha vida tinha sentido isso, não tem como manter a tranqüilidade, mas aos poucos estou acostumando", disse, enquanto um outro tremor foi sentido, à 1h34 de sábado. "Tá vendo, esse aí foi tranqüilo". Já seu filho, ao lado, não tem a mesma frieza. "Minhas pernas tremem, sinto um frio na barriga. É horrível!".
Três minutos depois, um novo tremor assustou a todos. "Essa noite não vai ser fácil", afirmou Ferreira. Se alguém de Sobral fechou os olhos na madrugada de sábado, um tremor se encarregou de abrí-los.
Segundo Eduardo Alexandre de Menezes, técnico em sismologia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) as atividade sísmicas diminuíram no fim de semana em comparação com sexta-feia. Das 0h às 9h de ontem, foram registrados 50 tremores. E apenas um pode ser sentido pela população e pela reportagem que estava no local à 1h25. No entanto, Menezes contabilizou 800 tremores desde a madrugada de sexta-feira. "Diagnosticamos uma zona sísmica ativa, entre as cidades de Meruoca e Alcântaras", disse.
Na madrugada de domingo, em uma das barracas, um grupo de 19 moradores batia prosa e alguns jogavam baralho para o tempo passar. Cleidivando de Arruda parou o que estava fazendo quando viu a reportagem passar e disse em tom de desabafo. "Olha aqui meu amigo, aqui quando falta água a gente bebe lama, e quando acaba a lama, tem terremoto. Isso aqui é o Ceará”.
(Edição: Cíntia Acayaba)
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A experiência em Sobral me deu uma nova vontade na profissão. Além de fotografar ressurgiu o desejo de ouvir e contar histórias da população dessasistida pelo governo e imprensa.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

aê, perfeitinho! parabéns, parabéns! e que venham muitos tremores de terra...

9:32 AM  
Blogger Joker Smoker said...

mandando bem hein verpa

já metendo o pé na estrada



tudo certo ai?


abraçoo


ênio

5:44 PM  
Blogger Lentes atentas said...

Parabéns pelo material meu amigo!

Abraços,

Sebastião Bisneto

4:01 AM  
Blogger Lu Andrade said...

aê! já já abraçando o mundo!
bj.

Lu

5:47 AM  
Blogger Anna Carolina Negri said...

sensacional

6:05 PM  

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